terça-feira, 2 de setembro de 2014

Uma crônica de solidariedade e justiça

Daí, o pobre sai para procurar emprego, e volta mais pobre ainda: 
Sem Bilhete Único, sem RG e sem a Carteinha da faculdade...

Saí de casa com rumos traçados: fazer uma entrevista, encontrar uma amiga para trocar informações sobre emprego, ir até uma agência para outra entrevista e distribuir currículos em outras agências.

Estava eu, minha mochila, uma sacola de papelão com uma pasta (que não cabia na mochila) e a minha bolsinha de mão que ganhei de aniversário, nela eu guardava meu RG, carteirinha de faculdade, trocadinhos, papéis, cartão do banco e cabia até o celular.

Voltando dos meus compromissos, eu ia descer na Puc, deixaria lá todo o material das aulas, que já estava comigo e voltaria pra casa apenas para fazer os brownies e tomar banho, minimizando o peso, voltaria para a faculdade somente com a tal da bolsinha, as chaves e os brownies. :)

Quando levantei para passar a roleta, peguei a tal bolsinha, encostei no leitor de cartão e passei a roleta. Por praticidade do momento, como já estava descendo do ônibus, abri a sacola de papelão que estava comigo e "joguei a bolsinha lá dentro". (Bem entre aspas mesmo, pois pensei ter feito isso.)

Andei depressa até os armários da biblioteca, quando cheguei ao balcão para pedir as chaves do armário, abri a sacola para pegar a bolsinha, e adivinhem?

ELA NÃO ESTAVA LÁ!

Uns segundos de confusão na minha cabeça, eu tinha certeza de que havia colocado a bolsinha lá, eu abri a sacola enquanto descia os degraus do ônibus "Oh, céus! Será que coloquei em falso?! Deixei cair no ponto de ônibus ou no degrau do ônibus?!"

Mais que depressa corri de volta ao ponto, olhei o chão todo, olhei o meio fio, nada! Perguntei para algumas pessoas e ninguém viu nada. Minha ideia foi: Pegar a mesma linha de ônibus da qual havia descido há menos de 10 minutos e então, seguir até o ponto final e com um pouco de sorte, encontrar o motorista e cobradora que estavam no ônibus de onde desci.

Logo veio outro 229. Expliquei a situação ao motorista que prontamente  quis me ajudar. acelerou, correu um pouco para ver se daria tempo de encontrar com o ônibus no ponto final. Quando chegou no bairro onde fica o ponto final, o motorista, com receio de que desencontrássemos o ônibus anterior, sugeriu que eu descesse e esperasse o ônibus no ponto de sentido a voltar para a John Boyd. Pelos cálculos dele, o próximo ônibus a passar ali, era mesmo o que havia me deixado na Puc. Ficou combinado assim: O tal ônibus passaria ali, eu questionaria o motorista e a cobradora e então se estivesse com eles, eu seguiria viagem naquele ônibus mesmo. Caso contrário eu ficaria ali no mesmo ponto esperando que ele voltasse do ponto final, já que eu estava sem passagem e não tinha como pagar para voltar pra casa.


Realmente veio o ônibus que eu esperava, entrei, perguntei ao motorista e á cobradora e não. Nenhum dos dois tinha visto nada. Nada foi encontrado naquele ônibus. Pensei então: Ou caiu e alguém logo viu e pegou, ou caiu mesmo no ponto de ônibus. Seja lá o que fosse, já era, pensei.


10 miniutos depois, o motorista que me ajudou, voltou do ponto final, fez uma cara 'triste' ao notar que eu esperava por ele, pois isto era um sinal de que eu não havia encontrado minha bolsinha. Ele lamentou e disse que poderia me ajudar. Se propôs a perguntar na garagem de ônibus entre esta noite e amanhã cedinho, pegou meu telefone e me ligaria assim que encontrasse, caso encontrasse mesmo. Achei louvável a atitude dele. Não tinha nada a ver com isso, nada a ganhar com isso e talvez até perderia tempo. Mas ele se propôs a me ajudar. Desci na Av. John Boyd, agradeci muuuito ao motorista, Rogério, e fui para o outro lado da avenida, me aventurar a encontrar outro motorista HUMANO que se arriscasse a me dar uma carona de volta para casa.


Encontrei um, expliquei a história a ele também, do porque estava sem cartão e tal, ele me olhava fixamente e eu já esperava um "desce, garota!", quando ele me diz: "Ok. Não é por isso que você não vai voltar para casa hoje. :D" (E de fato me abriu um sorriso solidário.

Fui, o caminho lamentando e pensando no que aconteceu, porque perdi a bolsinha, e não tinha nada de valor tipo dinheiro, porém fazer outro RG, carteitinha acadêmica, Bilhete Único e cartão do banco me dariam gastos e me fariam gastar tempo. Não havia mesmo dinheiro, apenas o cartão do banco, onde também nã tem 1 centavo, então não me preocupei, rs.

Desci no terminal, pensativa e claro, chateada, ninguém gosta de perder nada né, nem uma partida de de dominó e nem uma bolsinha com documentos. Entrei no outro ônibus para descer na rua de casa. Desci, cheguei em casa, pensando em como vou para a faculdade hoje... Tomei um banho, comi uma fruta, quando o telefone tocou. Pensei que pudesse ser alguma agência...

"- Alô?
- Alô, é Ana Carolina??
- Sim, sim, sou eu...
- Huuuuumm..... Você trabalha na Puc-Campinas??
- Não... eu estudo lá... Aaaai moço, você achou minhas coisas?? :D:D
- Não. Não achei suas coisas... Mas a Ednair achou!
- Quem??
- Uma moça que faz tartamento na odonto daqui da Puc. Viu, anota aí os telefones dela. Suas coisas estão com ela. ;)
- Uau, nossa, muito obrigada, muito obrigada mesmo...
- Anota moça: xxxxxxxx e xxxxxxxxx
- Uma pergunta: Como foi que acharam meu telefone?? Não tinha nada naquela bolsinha com meu telefone...
- A moça passou os dados da sua carteirinha acadêmica, seu RA... Com isso puxamos no sistema sua matrícula. 
- Huum, ok. Perfeito! Mais uma vez, muito obrigada.
- Por nada, por nada, tchau!"


...


Lembro-me que quando eu estava no ponto procurando pela bolsinha, tinha um ser negativo ao meu lado que dizia: "Ixiii, vc não vai achar... Pior que quem acha nem devolve.. Vão jogar fora..... E agora, o que vc vai fazer? Pra onde você vai moça?..."
Eu me esforcei muito para não ser grossa com a pessoa e apenas respondi: "Depende, nem todo mundo não devolveria, nem todo mundo jogaria fora, e eu estou pensando no que fazer, obrigada pela sua preocupação!!! 😡 "

E de fato, me lembrei das vezes que já achei cheque em branco, dei um jeito de encontrar a dona e devolvi, celulares que já achei também, documentos, carteiras e sempre dou um jeito de encontrar o dono, e fiquei pensando... Essas coisas voltam, acredito na lei do retorno e acredito também numa frase que o Pastor Kid, da Bola de Neve fala às vezes: "Deus não deve nada para ninguém!" Ou seja, não me considero em condições de achar que Deus me deve alguma coisa, hahaha, até parece né, eu é que devo muitooo, rsrs, mas no sentido de que creio que ele conhece nossas intenções e nos abençoa quando somos justos com alguém, pensei sim que ele estava presenciando aquela situação e ou faria com que tudo voltasse para minhas mãos ou me daria condições de fazer segunda via de tudo.

Posso dizer que as nossas atitudes tem consequências sim, sempre.
Há dois dias atrás, me senti humilhada e me lembrei que já fiz com outras pessoas aquilo que fizeram comigo naquele dia. Me senti colhendo o fruto amargo da humilhação que um dia eu plantei.
Mas hoje, pude sentir o gosto agradável da justiça, e sei que também já plantei por aí.

Como eu pedi esta manhã: "que setembro abra portas e faça renascer e florescer flores e amores..." 
Vejo a crônica de hoje como um desabrochar de uma flor que plantei um dia.

:)


Ana Carolina.


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